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Promovendo a inclusão na zona rural
Com o Projeto Singular, crianças e adolescentes com deficiência de Gravatá (PE) têm a oportunidade de vivenciar a inclusão, realizando tratamentos e reabilitações que melhoram sua qualidade de vida e a de suas famílias
Lenilda Rodrigues Nunes, Adilza Francisco Nunes, Gerinaldo Francisco Nunes e o pequeno Gabriel: uma das famílias beneficiadas pelo Projeto Singular.
11/07/2022
Localizada em uma região de transição entre o Sertão e a Zona da Mata, a serrana Gravatá (PE), é conhecida por seu clima ameno em meio ao agreste. Na cidade de 85 mil habitantes, há tanto cachoeiras paradisíacas quanto paisagens mais secas, típicas dos sertões nordestinos. Quem visita, ainda encontra casarões históricos da segunda metade do século XIX e pode ver de perto as caroatás, bromélias espinhosas cujo nome, derivado do tupi Karawatã ("mato que fura"), inspirou os primeiros habitantes no batismo do local.
Os encantos da paisagem e o clima agradável, contudo, convivem com uma situação tão espinhosa quanto as folhas dessas bromélias: as mazelas enfrentadas pelas pessoas com deficiência, uma parcela importante da população em todo o mundo. De acordo com o Unicef, 240 milhões de crianças possuem algum tipo de deficiência e, destas, metade nunca frequentou escola.
11/07/2022
Localizada em uma região de transição entre o Sertão e a Zona da Mata, a serrana Gravatá (PE), é conhecida por seu clima ameno em meio ao agreste. Na cidade de 85 mil habitantes, há tanto cachoeiras paradisíacas quanto paisagens mais secas, típicas dos sertões nordestinos. Quem visita, ainda encontra casarões históricos da segunda metade do século XIX e pode ver de perto as caroatás, bromélias espinhosas cujo nome, derivado do tupi Karawatã ("mato que fura"), inspirou os primeiros habitantes no batismo do local.
Os encantos da paisagem e o clima agradável, contudo, convivem com uma situação tão espinhosa quanto as folhas dessas bromélias: as mazelas enfrentadas pelas pessoas com deficiência, uma parcela importante da população em todo o mundo. De acordo com o Unicef, 240 milhões de crianças possuem algum tipo de deficiência e, destas, metade nunca frequentou escola.
Em Gravatá, no entanto, há 34 anos, crianças, adolescentes e jovens deficientes ganharam um grande aliado na luta por direitos e qualidade de vida: o SERC (Serviço de Estimulação e Reabilitação da Criança). Fundada por mães e irmãs de pessoas com deficiência, a instituição tem como missão garantir o direito de deficientes oriundos de famílias em situação de vulnerabilidade e, para isso, mantém um programa de saúde, educação e desenvolvimento comunitário. Uma das iniciativas é o Projeto Singular, coordenado pela pedagoga Maria das Dores de Brito, uma das fundadoras do serviço.
O projeto atua nas comunidades rurais do município, junto a crianças e adolescentes que, de outra forma, dificilmente teriam acesso a políticas públicas voltadas para eles. “Atendemos famílias que estão em situação de vulnerabilidade social e cuidam de crianças e adolescentes com deficiência. Elas não têm acesso a transporte, a processos de reabilitação e nem a informações corretas sobre a condição que acomete seus filhos", explica a coordenadora. Em 1988, ela se voluntariou no SERC para ajudar um irmão deficiente e, desde então, fez da iniciativa parte de sua vida.
O projeto atua nas comunidades rurais do município, junto a crianças e adolescentes que, de outra forma, dificilmente teriam acesso a políticas públicas voltadas para eles. “Atendemos famílias que estão em situação de vulnerabilidade social e cuidam de crianças e adolescentes com deficiência. Elas não têm acesso a transporte, a processos de reabilitação e nem a informações corretas sobre a condição que acomete seus filhos", explica a coordenadora. Em 1988, ela se voluntariou no SERC para ajudar um irmão deficiente e, desde então, fez da iniciativa parte de sua vida.
Promovendo a inclusão na zona rural
Somente em 2008, 20 anos depois de sua fundação, é que o SERC conseguiu obter a estrutura adequada para realizar as primeiras ações direcionadas às comunidades rurais do município, por meio do “Projeto Baseado nas Comunidades”. Em 2021, a iniciativa participou do edital de seleção de novos projetos do Programa Amigo de Valor, foi selecionada e rebatizada, passando a se chamar Projeto Singular.
Atualmente, são contemplados quatro distritos de Gravatá: Mandacaru, Uruçu, Russinhas e Avencas. Até o final do projeto, serão atendidos 81 beneficiários, com a realização de exames, avaliação psicológica e fonoaudiológica e Atendimento Educacional Especializado (AEE). A atividade é desenvolvida por meio do intercâmbio entre os professores das escolas onde os beneficiários estudam e os profissionais do Projeto Singular, que oferecem orientação e formação sobre educação inclusiva, processo terapêutico e deficiências, promovendo a inclusão e a acessibilidade no ambiente escolar.
Somente em 2008, 20 anos depois de sua fundação, é que o SERC conseguiu obter a estrutura adequada para realizar as primeiras ações direcionadas às comunidades rurais do município, por meio do “Projeto Baseado nas Comunidades”. Em 2021, a iniciativa participou do edital de seleção de novos projetos do Programa Amigo de Valor, foi selecionada e rebatizada, passando a se chamar Projeto Singular.
Atualmente, são contemplados quatro distritos de Gravatá: Mandacaru, Uruçu, Russinhas e Avencas. Até o final do projeto, serão atendidos 81 beneficiários, com a realização de exames, avaliação psicológica e fonoaudiológica e Atendimento Educacional Especializado (AEE). A atividade é desenvolvida por meio do intercâmbio entre os professores das escolas onde os beneficiários estudam e os profissionais do Projeto Singular, que oferecem orientação e formação sobre educação inclusiva, processo terapêutico e deficiências, promovendo a inclusão e a acessibilidade no ambiente escolar.
O projeto na prática
O Projeto Singular possui um cronograma mensal, no qual as três primeiras semanas são dedicadas ao atendimento direto às crianças e adolescentes, e a quarta às formações. Segundo a coordenadora, as parcerias com as secretarias da Educação e da Saúde da cidade foram fundamentais para que a iniciativa se tornasse mais abrangente, pois a primeira já possui dados das crianças e adolescentes com deficiência que frequentam as escolas, e a segunda tem os registros médicos da maioria deles.
Para alinhar os objetivos, é realizado um processo de preparação e formação com as equipes das duas secretarias, no qual as estratégias e o planejamento do projeto são apresentados. Cada distrito do município é atendido com base em listas feitas pelos profissionais de saúde e educação. Em um primeiro momento, a equipe do Projeto Singular realiza entrevistas em profundidade com as famílias. A partir disso, são feitos os encaminhamentos para o atendimento direto, com fonoaudióloga e psicóloga. Hoje, cada um dos quatro distritos de Gravatá conta com seis crianças e adolescentes em atendimento.
Todos aqueles em processo de avaliação especial possuem um Plano de Atendimento Individual (PDI), elaborado com a participação dos profissionais das Secretarias da Educação e Saúde. O plano é definido a partir de três pilares: a psicopedagogia para a questão da aprendizagem, a psicologia com relação ao comportamento e a fonoaudiologia no processo de linguagem e comunicação.
O Projeto Singular possui um cronograma mensal, no qual as três primeiras semanas são dedicadas ao atendimento direto às crianças e adolescentes, e a quarta às formações. Segundo a coordenadora, as parcerias com as secretarias da Educação e da Saúde da cidade foram fundamentais para que a iniciativa se tornasse mais abrangente, pois a primeira já possui dados das crianças e adolescentes com deficiência que frequentam as escolas, e a segunda tem os registros médicos da maioria deles.
Para alinhar os objetivos, é realizado um processo de preparação e formação com as equipes das duas secretarias, no qual as estratégias e o planejamento do projeto são apresentados. Cada distrito do município é atendido com base em listas feitas pelos profissionais de saúde e educação. Em um primeiro momento, a equipe do Projeto Singular realiza entrevistas em profundidade com as famílias. A partir disso, são feitos os encaminhamentos para o atendimento direto, com fonoaudióloga e psicóloga. Hoje, cada um dos quatro distritos de Gravatá conta com seis crianças e adolescentes em atendimento.
Todos aqueles em processo de avaliação especial possuem um Plano de Atendimento Individual (PDI), elaborado com a participação dos profissionais das Secretarias da Educação e Saúde. O plano é definido a partir de três pilares: a psicopedagogia para a questão da aprendizagem, a psicologia com relação ao comportamento e a fonoaudiologia no processo de linguagem e comunicação.
Diagnósticos que mudam realidades
O pequeno Gabriel exercita a coordenação motora fina na casa da família.
Apesar de recente, a iniciativa já apresenta resultados, especialmente em relação à detecção precoce de deficiências físicas e intelectuais. “Quanto mais cedo a condição é notada, maiores são as chances de uma evolução positiva”, explica Maria das Dores, “por isso, a parceria com a Secretaria de Saúde é fundamental para obter encaminhamentos e diagnósticos precoces em um entorno no qual a maioria das pessoas pouco ou nada sabe sobre as deficiências físicas e intelectuais”. Foi justamente o que aconteceu com Gabriel Natan dos Santos Nunes, de 3 anos, que chegou ao Projeto Singular por meio da agente de saúde Maria Aparecida de Souza Silva, do distrito de Mandacaru.
Desde bem pequeno, o garotinho é criado pelo pai, Gerinaldo Francisco Nunes, com a ajuda da tia, Lenilda Rodrigues Nunes e da avó, Adilza Francisco Nunes. Nenhum dos três desconfiava que havia algo diferente nele, que ainda não falava apesar da idade. “A gente notava que ele era mais bravo, mais agressivo, ele chorava muito, mas eu pensava que ele sentia falta da mãe, que ia passar”, lembra a tia Lenilda, enquanto apresenta o sítio da família, onde Gabriel se diverte brincando com a avó e as galinhas.
Apesar de recente, a iniciativa já apresenta resultados, especialmente em relação à detecção precoce de deficiências físicas e intelectuais. “Quanto mais cedo a condição é notada, maiores são as chances de uma evolução positiva”, explica Maria das Dores, “por isso, a parceria com a Secretaria de Saúde é fundamental para obter encaminhamentos e diagnósticos precoces em um entorno no qual a maioria das pessoas pouco ou nada sabe sobre as deficiências físicas e intelectuais”. Foi justamente o que aconteceu com Gabriel Natan dos Santos Nunes, de 3 anos, que chegou ao Projeto Singular por meio da agente de saúde Maria Aparecida de Souza Silva, do distrito de Mandacaru.
Desde bem pequeno, o garotinho é criado pelo pai, Gerinaldo Francisco Nunes, com a ajuda da tia, Lenilda Rodrigues Nunes e da avó, Adilza Francisco Nunes. Nenhum dos três desconfiava que havia algo diferente nele, que ainda não falava apesar da idade. “A gente notava que ele era mais bravo, mais agressivo, ele chorava muito, mas eu pensava que ele sentia falta da mãe, que ia passar”, lembra a tia Lenilda, enquanto apresenta o sítio da família, onde Gabriel se diverte brincando com a avó e as galinhas.
Gabriel brinca no sítio da família.
Depois da visita da agente de saúde Maria Aparecida, no início de 2022, Gabriel foi encaminhado ao projeto, diagnosticado com autismo e passou a receber atenção especializada. Ciente das necessidades do filho, aos poucos, Gerinaldo está descobrindo como cuidar do menino e prepará-lo para chegar à escola, tudo com o auxílio da equipe do projeto. “Nós estamos aqui para ajudá-lo a compreender o que é o autismo e como os profissionais da área de psicologia e fonoaudiologia podem contribuir com o processo de conhecimento e evolução do Gabriel, dentro e fora da escola”, conta Maria das Dores.
Depois da visita da agente de saúde Maria Aparecida, no início de 2022, Gabriel foi encaminhado ao projeto, diagnosticado com autismo e passou a receber atenção especializada. Ciente das necessidades do filho, aos poucos, Gerinaldo está descobrindo como cuidar do menino e prepará-lo para chegar à escola, tudo com o auxílio da equipe do projeto. “Nós estamos aqui para ajudá-lo a compreender o que é o autismo e como os profissionais da área de psicologia e fonoaudiologia podem contribuir com o processo de conhecimento e evolução do Gabriel, dentro e fora da escola”, conta Maria das Dores.
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Gerinaldo Francisco Nunes
Pai de Gabriel
A equipe do SERC se comove ao relatar o progresso do garoto que, apesar do pouco tempo de atendimento, teve uma evolução significativa: já consegue segurar o lápis e está começando a identificar as cores, além de fazer pinturas e atividades, mostradas com orgulho pela família.
Visibilidade ajudando a transformar vidas
Embora o SERC já tenha uma experiência de 34 anos no atendimento de crianças e adolescentes com deficiência, desde que o Projeto Singular passou a ser apoiado pelo Amigo de Valor, o serviço ganhou uma visibilidade inédita, tanto na mídia tradicional quanto nas redes sociais e entre as famílias da zona rural de Gravatá. O aporte financeiro possibilitou uma ação mais abrangente, facilitando a aproximação com a comunidade rural e expandindo o campo de ação da ONG.
E com o aumento da oferta do serviço, possibilitada pela implantação da iniciativa, os profissionais notaram também o crescimento da demanda. Por isso, a ampliação da equipe já é vista como uma necessidade pelo SERC. A luta agora é para que o município reconheça o trabalho da instituição como algo indispensável para a população gravataense e implemente políticas públicas específicas para seus cidadãos com deficiência.
E com o aumento da oferta do serviço, possibilitada pela implantação da iniciativa, os profissionais notaram também o crescimento da demanda. Por isso, a ampliação da equipe já é vista como uma necessidade pelo SERC. A luta agora é para que o município reconheça o trabalho da instituição como algo indispensável para a população gravataense e implemente políticas públicas específicas para seus cidadãos com deficiência.
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Maria das Dores de Brito
Coordenadora do Projeto Singular