Desculpa, mas infelizmente nosso site não está habilitado para o seu navegador

Para ter uma melhor experiência ao usar o portal Santander, prefira um dos navegadores abaixo

Navegadores compatíveis

Internet Explorer 11

Santander

Empoderamento feminino no litoral alagoano

Com o projeto Meninas Protagonistas, garotas de Maragogi (AL) têm a oportunidade expandir seus horizontes culturais e profissionais

A equipe do projeto e suas beneficiárias.

19/10/2022

Jamilly Vitória, de 15 anos, nunca havia tido contato com o universo digital. A menina vive em Maragogi, município alagoano com pouco mais de 30 mil habitantes, famoso por suas praias paradisíacas e um dos mais importantes destinos turísticos da região nordeste. A exclusão digital que Jamilly enfrentava até pouco tempo é apenas um dos problemas vividos por uma parte considerável da população da cidade e que impacta, principalmente, crianças e adolescentes do sexo feminino. 

Desde o início de 2022, as garotas de Maragogi podem contar com um importante aliado: o projeto Meninas Protagonistas, que atende adolescentes de 11 a 17 anos em situação de vulnerabilidade social nas zonas urbana e rural do município e abre caminhos para que elas transformem suas realidades por meio de cursos profissionalizantes e atividades artísticas, culturais e de lazer.

Beneficiária do projeto desde o início, Jamilly viveu uma verdadeira revolução em sua rotina. "Minha vida antes do projeto era bem parada, eu chegava da escola e ficava o dia todo sem fazer nada. Agora, tenho muita coisa para fazer”, conta a menina, que hoje participa das aulas de karatê, dança e informática. “Eu nunca tinha mexido em um computador”, lembra. Além de bem familiarizada com o mundo virtual, Jamilly passou a contar com o apoio da psicóloga da iniciativa, algo que considera muito importante. “O acompanhamento psicológico também é muito bom, porque desabafar ajuda bastante a vencer as dificuldades”, explica a garota, que diz estar mais confiante em si mesma e ter mais desenvoltura em suas relações sociais e familiares.

Meninas Protagonistas:  o projeto na prática

Flávia Luana, 15 anos, em treino de artes marciais realizado pelo projeto.

A iniciativa foi criada a partir de um diagnóstico feito pelo Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) de Maragogi, que constatou um alto índice de violência contra garotas de algumas comunidades do município. “Essas meninas passam por situações de abuso, negligência, violência física e psicológica, além de residirem em comunidades muito carentes, com alto índice de criminalidade”, relata Neuz a Cavalcante, coordenadora do projeto. “Por isso, identificou-se a necessidade de um serviço que atendesse exclusivamente jovens do sexo feminino na cidade”, acrescenta Neuz a, que ressalta a participação das escolas, do Conselho Tutelar e do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) no mapeamento da demanda.

Uma vez definido o foco de atuação, a equipe técnica do Meninas Protagonistas realizou visitas domiciliares para identificar e cadastrar as beneficiárias e suas famílias. Atualmente, são 103 jovens atendidas diretamente e mais de 400 pessoas que se beneficiam de forma indireta.

O atendimento inclui aulas de informática, fotografia, dança e karatê, além de oficinas artísticas e atendimento psicológico, individualizado e em grupos. A expectativa é fomentar a promoção de direitos, combatendo a gravidez na adolescência, a exploração infantil e as violências cometidas contra meninas.

"

Essas meninas passam por situações de violações e residem em comunidades muito carentes, com alto índice de criminalidade. São garotas que foram expostas a situações de abusos, negligência, violência física e psicológica. É um trabalho extremamente necessário em nossa cidade.

"

Kelvia Barros

Assistente administrativa do Meninas Protagonistas

O projeto também almeja fazer frente à desigualdade de gênero na cidade, como preconiza o objetivo 5 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. “Há mais mulheres do que homens em Maragogi. E, ainda assim, é pouco comum vê-las em cargos públicos e posições de chefia. Com o nosso projeto, queremos empoderar essas meninas, motivá-las e inspirá-las, para que possamos, aos poucos, ir equilibrando esse quadro”, comenta Neuza.

Assim, seja nas atividades de aprendizagem ou de lazer, sempre é realizado o estímulo do envolvimento das meninas nos espaços de discussão. Foi com esse objetivo que o Meninas Protagonistas trouxe mulheres bem-sucedidas da região, como a secretária de trabalho do município, policiais femininas e uma advogada para dar palestras motivacionais, incentivando a participação cidadã e a ocupação dos espaços públicos pelas garotas.

De mulheres para mulheres

Jamilly Vitória, 15 anos, Bianca Larissa, 13, Maria Raquely, 14 e Bruna Larissa, 14, em um momento de descontração no tatame.

A promoção da igualdade de gênero e do protagonismo feminino se reflete na equipe do projeto, composta exclusivamente por mulheres: duas psicólogas, uma assistente social e as professoras de informática, karatê, dança e fotografia. A gestão fica por conta da coordenadora e de mais duas profissionais que atuam na parte administrativa. Bimestralmente, a assistente social vai às escolas da cidade para avaliar a frequência escolar das participantes.

Quanto à profissionalização e geração de oportunidades para o mercado de trabalho, a iniciativa, apesar de recente, já começa a colher os frutos de seus esforços: uma das beneficiárias, Vitória da Silva, 17 anos, está empregada em um banco como jovem aprendiz. O objetivo é que, em breve, outras meninas estejam também trabalhando, garantindo sua independência financeira e iniciando carreiras.

Garantindo a continuidade

Para seguir atuante na cidade, segundo Neusa, “o subsídio e as capacitações oferecidas pelo Amigo de Valor são fundamentais”. Ela também ressalta que a equipe de gestão trabalha para encontrar alternativas que viabilizem o projeto nos próximos anos, transformando as vidas de muitas outras meninas do litoral alagoano.

“As capacitações nos conscientizaram sobre a importância de buscar caminhos para garantir a continuidade do projeto, e isso abriu nossos olhos para que pudéssemos pensar no longo prazo”, conta a coordenadora, que pretende tornar a iniciativa uma política pública permanente em Maragogi. Enquanto isso não acontece, a busca por parcerias tem sido um dos principais focos: "Estamos buscando promover cada vez mais parcerias para que nós possamos ofertar ainda mais atividades e serviços para as meninas e ir além do bairro de São Bento e dos assentamentos da zona rural de Itabaiana, Nova Jerusalém e Peroba, que contemplamos hoje”.