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Santander

Movimento e tradição no semiárido pernambucano

Com o programa Vida Saudável na Melhor Idade, pessoas idosas de Carnaubeira da Penha (PE) rompem com o isolamento e fortalecem os laços comunitários

Membros da equipe e beneficiários do projeto das etnias Atikum e Pankará posam para foto na área rural de Carnaubeira da Penha

Cícero Silva é educador social. Maria do Carmo dos Santos, professora aposentada. José Manoel do Nascimento trabalha desde jovem como agricultor e Ozana Barros é assistente social e idealizadora do projeto Vida Saudável na Melhor Idade. Todos têm em comum o fato de estarem ligados ao projeto, seja como beneficiários ou membros da equipe, e são unidos por algo mais: são indígenas da etnia Pankará, residentes em Carnaubeira da Penha, um pequeno município de 13 mil habitantes, localizado em Pernambuco.

"Todos nós temos as mesmas origens, o que inclusive é um fator determinante para a condução do programa, que é muito calcado na nossa cultura e nas nossas tradições. "

Ozana Barros

assistente social e idealizadora do projeto Vida Saudável na Melhor Idade

Desde os tempos pré-colombianos até hoje, a região é o lar tradicional de populações indígenas que vivem principalmente nas serras da Cacaria, do Arapuá e de Umã — onde se localiza a Reserva Indígena do povo Atikum. Ao lado da diversidade étnica e cultural de Carnaubeira da Penha, a pobreza marca as vidas de seus cidadãos: o PIB per capita do município está entre os menores do estado e da sua região. Além disso, por conta das grandes dimensões geográficas e da pequena população, Carnaubeiras sofre com o isolamento social de seus habitantes, principalmente os mais idosos.

Equipe e beneficiários durante passeio de barco.

Pensando na mitigação desses problemas, Ozana idealizou, junto de outras lideranças locais, o programa Vida Saudável na Melhor Idade, que tem transformado a realidade das pessoas idosas da cidade. O projeto é uma iniciativa indígena por excelência: todos os beneficiários, assim como a equipe técnica, pertencem a etnias originárias da região. “Somos indígenas, quase todos nós. Alguns vivem em aldeamentos e outros, como eu, são desaldeados. Temos uma minoria de beneficiários quilombolas, que também são muito próximos da gente em termos de cultura”, comenta Ozana, que além de idealizadora é técnica social do projeto.

Como funciona o projeto

Membros da equipe, beneficiários e familiares durante um momento de confraternização.

O Vida Saudável na Melhor Idade opera em parceria com o Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) do município e possui uma equipe composta por educadores sociais, educador físico, fisioterapeuta e psicóloga. O programa surgiu diante da constatação de isolamento social de diversos idosos, o que levou a uma busca ativa para encontrar os possíveis beneficiários. Uma vez cadastrados, eles passaram a fazer parte das atividades propostas: alongamentos, caminhadas, jogos, como baralho e dominó, e danças tradicionais dos Atikum e dos Pankará, além de atendimento psicológico individualizado. Entre as danças, a mais popular é oriunda do ritual do Toré: embora a maioria dos beneficiários seja cristão e não pratique mais suas religiosidades tradicionais, essa dança circular típica, acompanhada por cantos e instrumentos musicais, é ainda conhecida por todos e funciona como um poderoso agregador étnico e cultural.

“Antes de colocarmos em prática as nossas atividades, montamos dinâmicas para fazer com que os idosos se movimentem mais, porque eles passam muito tempo em suas residências e isso afeta muito a sua locomoção”, relata Cícero Silva. Além disso, nos momentos de convivência, também é estimulada a contação de história entre os participantes, não apenas como uma maneira de exercitar a memória, mas também como uma forma de manter viva suas tradições.

Afinal, em populações nas quais a cultura é passada de forma oral, os idosos possuem um papel fundamental em sua preservação. “Os idosos dentro das aldeias são respeitados e eles têm autonomia e também autoridade em relação aos jovens”, explica Ozana. “A figura do nosso pajé, por exemplo, é uma referência de sabedoria e autoridade, inclusive por conta de ter mais idade e, consequentemente, mais conhecimento”, completa.

"Buscamos trazer sempre as danças como o Toré, que não só ajudam a manter o corpo ativo, mas também preservam a cultura dos nossos antepassados. Nós, os Pankará, já perdemos nossa língua ancestral. Mas ainda preservamos muitos costumes. E, ainda que a religião tradicional tenha perdido bastante espaço para o cristianismo, somos muito ligados às origens."

Cícero Silva

Educador social do Vida Saudável na Melhor Idade

Vidas transformadas

Sem renunciar à indumentária tradicional de sua etnia, o Pajé João Antonio do Nascimento realiza atividade na sede do projeto.

Mesmo com pouco tempo de atuação, o projeto já vem fazendo a diferença na vida de idosos carnaubenses como José Manoel do Nascimento, de 69 anos. “Antes de entrar para o programa eu andava muito pensativo, um pouco triste. Mas depois que entrei minha vida teve mais animação. O programa tem incentivado muitos idosos que estavam desanimados”, conta o indígena da etnia Pankará que trabalhou a vida toda como agricultor e, embora esteja aposentado, ainda lida com a terra diariamente.

Outro caso é o de Maria do Carmo de Santos Silva, de 66 anos. Dona Maria, que é professora aposentada, até o ano passado morava em Floresta, município vizinho. Porém, seus filhos quiseram se mudar para Carnaubeiras da Penha e trouxeram a mãe, em dezembro de 2021. Em Floresta, ela participava de atividades para idosos no CRAS. Entretanto, ao chegar em Carnaubeiras, as suas saídas eram raras.

Além da dificuldade para se adaptar ao novo ambiente, os problemas de saúde colaboraram para o isolamento da idosa: há seis anos, Maria do Carmo contraiu o vírus da chikungunya, que a deixou em uma cadeira de rodas. A dificuldade de locomoção, somada à mudança para uma nova cidade em uma idade avançada, tornou a socialização muito difícil para Dona Maria, que passou a ficar muito “parada, sem fazer nada”. Até que, por meio da busca ativa realizada pelo projeto, ela foi encontrada por Cícero. “Parece que foi um anjo que o enviou, porque eu estava precisando muito”, conta.

A dança típica do ritual do toré é a atividade mais popular entre os beneficiários: um agregador sociocultural para os povos originários do nordeste.

"Para mim, este programa foi uma benção de Deus, porque ele me proporcionou um lugar para sair, divertimento e interação com outras pessoas. Eu estou adorando."

Maria do Carmo de Santos Silva

Beneficiária do projeto

Hoje, a idosa não perde uma atividade do projeto, fez diversas amizades e acredita que a animação que reconquistou em sua vida tem trazido não apenas ganhos para a sua saúde mental, como também para a sua saúde física. “Estar no projeto melhora bastante o meu humor e, com as atividades, também me sinto melhor fisicamente”, comemora.